3 de dezembro de 2009

Competência Administrativa no Transporte Coletivo

Sou totalmente contra a privatização de setores públicos. Os idealizadores das privatizações afirmam que o deus Mercado vai trazer melhores serviços, mais qualidade, entre outros.

Mas, há algumas questões que precisam ser analizadas que rebatem essa postura.
A primeira questão é que uma empresa privada tem como objetivo principal o lucro. Não que isso seja algo errado, não, isto é algo normal deste setor e é por isto que ele existe então eles nunca estarão descolados.

Já um serviço público tem como objetivo principal atender necessidades específicas (demandas) de uma sociedade.

Vou usar como base de exemplo o sistema de Transporte Coletivo de Joinville.



Ao olhar o sistema sob o ponto de vista de administração de empresas, ou seja, receita versos despesas, produtividade e lucro, constatamos que enquanto o número de usuários do sistema vai baixando gradativamente, aumenta-se a tarifa para compensar a fuga de receita. Dessa forma, independente do número de usuários, é possível sempre manter um lucro específico. Caso haja um aumento pequeno da procura, têm-se maior lucro e em meio a isso está a produtividade, onde nos livros de administração atuais ensinam claramente: reduzir custos, aumentar produtividade para ter mais lucro. Entre as reduções de custos no sistema de transporte, podemos citar a diminuição de linhas que transportam poucas pessoas, acarretando em mais espera para quem usa o sistema. Aos poucos já começam a aparecer as contradições entre os interesses da empresa (lucro) e o interesse dos usuários (mobilidade urbana).

Agora, se olharmos o sistema de transporte coletivo do ponto de vista "serviço para atender as demandas da sociedade" está mais do que claro que este sistema é sinônimo de extrema incompetência. Vamos aos fatos.

1. Diminuição do número de usuários: apesar de parecer uma evolução economica as pessoas deixarem de utilizar o sistema de transporte coletivo, resulta em mais motos (mais acidentes de transito), mais carros (aumento de congestionamento), além de que dados comprovam que a maioria das pessoas que saem do sistema coletivo migram para ir ao trabalho a pé ou de bicicleta, e tira as opções de lazer distantes de suas residências.

2. Aumento do custo para usuários: assim como uma empresa precisa reduzir seus custos, as famílias também precisam fazer o mesmo na economia familiar e a primeira coisa a cortar são os supérfluos. Andar de transporte coletivo fica resumido as questões mais essenciais e básicas.

Cada família sabe quanto pode usar por mês com transporte. É praticamente um valor fixo que conforme aumenta o valor da passagem, logicamente baixa o número de viagens disponíveis.

3. Limita acesso a cultura e educação: Vejo constantemente políticos e jornalistas defenderem que a educação é a salvação para o Brasil e para o futuro do país. Certamente não basta uma simples escola técnica para servir de mão de obra, mas acesso a cultura, que parte de ter acesso a cinema e teatro (que em Joinville existem opções gratuitas), eventos musicais, museus e culturas locais. Em Florianópolis, cidade com mais de 20 praias, é comum nos bairros pobres crianças que jamais foram a uma praia.
Não é atoa que o Movimento Passe Livre (MPL) elegeu como símbolo da exclusão social a catraca do transporte coletivo.

Conclusão:
O sistema atual de transporte coletivo não serve aos interesses da população por ser exclusivo (exclui usuários do sistema) promovendo o transporte individual e causando o caos, que só tende a piorar.
Então é preciso urgentemente inventar um novo modelo de transporte coletivo para atender os interesses da sociedade, onde a mobilidade e não o lucro sejam prioridade e é sobre isto que falarei no próximo artigo.

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