7 de janeiro de 2010

Transporte Coletivo Banda Larga


Quem não se lembra dos tempos de internet discada? Eu tinha que esperar a meia-noite para não ter uma surpresa no final do mês com uma conta acima dos padrões da minha família. Durante o dia, o horário que mais se precisa da internet, principalmente para o trabalho, a conexão era lenta, isso quando era completada, além de cara. Como essa tecnologia é essencial para o progresso econômico, houve uma solução bastante conhecida. A internet banda larga surgiu com vários diferenciais. Além de oferecer uma internet com velocidade (qualidade) superior, essa tecnologia tem um diferencial essencial que rapidamente assediou muitos consumidores.
Um preço fixo para ter a internet disponível 100% do tempo. O melhor horário para usufruir este benefício era escolhido pelo usuário, ou seja, uma verdadeira liberdade de escolha e de acesso a informação.

O momento que estamos vivendo hoje do transporte coletivo é muito semelhante ao momento pré-banda larga. Temos um serviço de baixa qualidade (ônibus lotados e caro) em que pagamos em cada uso, limitando nossa liberdade de ir e vir, onde temos que limitar nossos deslocamentos para não ficarmos sem dinheiro ao final do mês. Como os excessos estão ligados a cultura, lazer, esportes, estudos, etc, essa limitação influi diretamente o desenvolvimento econômico e cultural da sociedade, assim como ocorria com a internet discada. E assim como aquela problemática, essa também merece uma solução parecida.

Precisamos ter um custo fixo, inferior ao atual, que garanta nossa liberdade de ir e vir, nosso acesso a cultura, educação, saúde, trabalho e tudo que uma sociedade deve oferecer, seja público ou privado. Se a visão da economia de uma empresa está ligada a redução de custos, com ganho de melhorias, a economia familiar deve seguir os mesmos passos, numa luta para reduzir seus custos, onde certamente a locomoção faz parte dos maiores.

O Movimento Passe Livre (MPL) tem feito uma discussão sobre como a lógica do sistema deve funcionar através do Tarifa Zero, com base na tentativa feita pela Erundina em São Paulo e tem sentido dificuldades em passar esta idéia à sociedade, justamente porque o sistema tem um custo real e a discussão de onde deveriam vir o dinheiro para esse financiamento (via impostos) é assunto ainda mais complexo na sociedade, até porque aumento do custo total é obrigatório, já que aumentaria constantemente o número de pessoas utilizando o sistema.

Como eu desejo a melhoria do transporte, vou tentar trazer a discussão de que é possível inverter a lógica de funcionamento, aumentando o número de utilizadores do sistema, baixando o custo final do usuário sem necessariamente zerá-lo, o que continua como desafio para o MPL.

Custo Aproximado do Sistema Atual
Para termos uma base de quanto custaria para manter um sistema de transporte funcionando, decidi usar como base de cálculo entrevista do prefeito Carlito Mers ao Jornal ANotícia, após conceder o aumento às empresas Gidion e Transtusa.
Na entrevista, ele afirma que o número de passagens/mês é de 3.303.000.
Se multiplicarmos este valor por R$ 2,50 (preço média da passagem) teremos o valor total de arrecadação de R$ 8,25 milhões/mês.
O valor foi superextimado para não haverem dúvidas quanto as possibilidades que temos pela frente.

Números
- Divindo o número tota de passagens por 30 dias, temos 110 mil passagens/dia em média (o número diário é variável entre dias de semana e finais de semana).
- Segundo alguns números do site da prefeitura, temos 144 mil casas em Joinville.
- Também segundo a prefeitura, em 2007 existiam 147 mil trabalhadores empregados em Joinville.
- Segundo o IBGE o número de estudantes em Joinville é 20 mil (20.705 / 2008) no ensino médio e 21 mil (21.656 / 2007) no ensino superior.
Com estes números em mãos, podemos facilmente projetar um bom sistema de transporte coletivo, para se ter idéia de possibilidades de receita.
- Custo de ida e volta ao trabalho: (2 * 2,30) * 22 dias = R$ 101,20
- Desconto do trabalhador 6% de R$ 700,00 = R$ 42,00
- Descontando os valores, o valor médio que uma empresa paga de transporte por funcionário é de R$ 59,20.

Cálculos

1. Dividindo os 8,25 milhões pelas 144 mil casas, por exemplo, teremos uma valor por casa para manter o sistema de R$ 57,50
2. Dividindo o mesmo valor pelo número de empregados temos R$ 56,00

Uma divisão desta forma seria muito discutível, pois há casas que ninguém usa o transporte coletivo, ou moram poucas pessoas. E dos 147 mil empregados, muitos não utilizam o benefício do transporte, apesar que uma obrigação do pagamento deste benefício diretamente a empresa de ônibus para todos os empregados, independente se usam ou não o benefício, já poderia facilmente custear o Tarifa Zero.

Mas, partindo do princípio de que somente quem utiliza o transporte deve pagar, vamos prever outros números:
Digamos que 100 mil trabalhadores utilizam o benefício do transporte, e 20 mil estudantes utilizem o transporte coletivo. Teremos um total de 120 mil usuários. Se fossemos cobrar diretamente destes uma mensalidade para manter o sistema, seria algo em torno de R$ 68,75.
Mas esta divisão não é correta, já que os empregadores pagam hoje mais da metade do benefício e passariam a pagar menos, além disso os estudantes, que normalmente não tem fonte de recursos, acabariam pagando muito mais que os trabalhadores.

Em um cálculo mais avançado, podemos distribuir melhor esses valores para que haja mais justiça na distribuição dos custos.

Pensando no valor pago hoje por mês de R$ 101,20, devemos aumentar esse valor para R$ 110/mês para usar como base para pagamento das empresas.
Multiplicando este 110 pelo número de trabalhadores que recebem o benefício, temos aproximadamente 11 milhões.
Ainda temos os desempregados e estudantes, que poderiam contribuir de alguma forma.
Neste caso gostaria de colocar uma meta.

Para até 100 mil usuários, deveria ser pago R$ 50,00 por usuário, número que provavelmente já estaria vencido com os trabalhadores.
A partir de 150 mil usuários, R$ 40 por usuário.
A partir de 200 mil usuários, a meta ideal, R$ 30 por usuário (R$ 1 por dia)
Ainda poderiam dar descontos de 50% para os estudantes, para incentivar mais famílias a inserir seus filhos no sistema de transporte, pois eles serão os maiores beneficiados de ter passagem livre na cidade, sem limitações.

Para finalizar a proposta, atingindo os 200 mil usuários:
100 mil x $110 = $11 milhões (trabalhadores)
70 mil x $30 = $2,1 milhões (não estudantes)
30 mil x $15 = $0,45 milhão (estudantes)

Arrecadação total: $13,55 milhões de reais por mês.
O suficiente para melhorar absurdamente o sistema atual, além de trazer benefícios enormes a todos os usuários, como utilização livre e maior, com menos dinheiro. Em resumo, mais lazer, educação, passeios, consumo, liberdade, felicidade...

As metas tem como objetivo, trazer um desafio à população para pagar menos, por um serviço que tem que ser pensado para a população e não para a empresa privada.

No próximo texto sobre transporte, vou falar de como pode ser a organização da empresa para que o transporte seja sempre pensado para a maioria da população.

P.S.: Prefeitura de Joinville está pensando em repassar R$ 350 mil para subsidiar 9 mil idosos entre 60 e 64 anos. Dividindo os números, temos um custo mensal de menos de R$ 40,00 por pessoa. Pensem nisso.

1 de janeiro de 2010

Nova Safra do Rap pós-moderno


Agora no final de dezembro chegou para venda o tão esperado CD do V.O (Versão Original), grupo de Rap de Joinville, que junto com outros grupos da cidade não desistem de lutar para manter o movimento em movimento.

Eu estava com muita expectativa e apreensão para ouvir esse CD, e vou explicar o porquê.

Conheço o Lucas, um dos integrantes do grupo, desde os tempos que frequentávamos uma igreja evangélica, passando pelos diversos eventos de hip-hop realizados na cidade e até nas manifestações contra o aumento da tarifa do transporte público.

É um grande rimador, que se dedica ao que faz e principalmente ACREDITA em si. E isso certamente faz a diferença. Pensando no futuro promissor que tem, ele decidiu fazer faculdade de Publicidade, matéria que eu como auto-didata sempre estudei. Sei que alguns no rap podem até criticar, mas como diz GOG "O estudo é um escudo" que tem no CD citado. Ele, como eu e muitos brasileiros, somos filhos de torneiro-mecanico, como o Lula, presidente do Brasil. Ou seja, somos (me refiro a toda geração da década de 80) os herdeiros das lutas de vários brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e será essa geração que daqui alguns anos ditará o destino do Brasil, começando hoje.

Apesar de toda essa história, sabemos que o hip-hop vive um dilema. Como se sustentar num mundo cada vez mais insustentável? Muitos grupos têm procurado "atalhos", produzindo cds totalmente dedicados a pista, com letras fúteis e ritmos mais puxados para o pop, buscando o mercado aberto pelo rap estadunidense, como o grupo ligado ao Cabal e o tal Hip Hop Pro. Eu particularmente acho este caminho bem perigoso, pois o público deste tipo de música não reconhece os talentos mas sim ouve apenas como música ambiente e que de tempos em tempos muda o ritmo, passando por sertanejo universitário, funk, ou qualquer outra moda da hora.

Já o publico tradicional do hip-hop, da qual faço parte, gosta de boas letras e boas levadas. Conhece os problemas sociais do país e luta por eles, enfim é um público fiel e que dá valor ao talento verdadeiros.

A idéia de evolução do Hip-Hop vem do seguinte: fazer música que não fuja dos ideais do movimento, mantendo o público fiel e ao mesmo tempo abranger a classe média que tem dinheiro pra consumir, trazendo receita e tornando o movimento cada vez mais sustentável.

Qualquer passo dado muito para um dos lados pode acabar com todo um projeto. Então era essa minha apreensão antes de ouvir o CD.

Mas agora que o CD (em meio a 6 bilhões) está em mãos tudo está bem. Um trabalho que realmente me surpreendeu e vários amigos que são do movimento e não cansam de elogiar.

Costumo dizer que um CD de rap é como um livro, que passa um conjunto de idéias de um momento da história, sendo reforçado a cada vez que é tocado e decorado pelos ouvintes. E este "livro" é completo em todos os sentidos que foram citados acima.

Realiza os mais conservadores do movimento, com letras sutis mas bem politizadas, como as músicas "Conectai", "Pacifista", "Ta tudo errado" e "El Hajj Malik El Shabaz", com críticas as futilidades das mulheres que levam muitos homens a seguirem caminhos errados em "Interesse" com participação especial do Marcão do grupo DMN.
Também traz outra grande participação da cidade com Karina K, que com sua grande voz inicia o CD com músicas que misturam a cultura nacional digno de comparação com Marcelo D2 em o seu hip-hop com samba. No mesmo estilo ainda tem um grande rap com participação do coral infantil da Escola Elias Moreira.
Ainda traz hits de verão como "O O O", numa criatividade que me deixou boquiaberto e "De role" que representa o rolê de várias tribos de Santa Catarina, exaltando a natureza e as praias locais.
A música "Absorvendo idéias" também reflete o momento histórico da qual fazermos parte, que é a Era da Informação. Sem deixar de lado músicas de pista como "Só tenho agradecer" e "Clima na festa".

Certamente há muito que se falar sobre cada música, com letras muito bem feitas e produções que realmente provam que o Hip Hop Brasileiro está sim evoluindo e este é só o começo. Aliás, não posso deixar citar a grande ajuda do Abel Xicano, grande músico local que produziu algumas bases e esteve envolvido em todo o projeto, formado em Marketing. Em post mais adiante estarei comentando faixa a faixa o CD

Indico a todos comprar. Em Joinville está a venda na VISCOM, nova loja de Rap da cidade, por apenas R$ 10,00. Quem tiver interesse e for de outra cidade é só me falar que posso fazer o envio, o preço de envio pelo correio como encomenda normal é de aproximadamente R$ 2 reais.