11 de dezembro de 2009

Crack - Um grave problema Social


Recentemente tenho visto bastante propaganda de uma campanha lançada pela RBS TV contra o crack. A propaganda principal é a de um professor universitário que em tom de drama fala das desgraças que o crack causa e de como identificar o usuário desta droga na escola.

Ele começa a faltar as aulas


é a frase final da propaganda.

Eu acho que a campanha está atacando o alvo certo, que é o crack. Quem teve amigos sequestrados pelo crack tem completa noção do tamanho da dependência que causa essa droga, não só pela velocidade com que vicia, pois na segunda dose já se é refém quimicamente, como no abismo que a droga leva o indivíduo. Após alguns anos de dependência, o usuário já tem completa noção do buraco que se encontra.

Posso citar meus exemplos de infância. Morei no Espinheiros e parte dos amigos do bairro caíram e estão até hoje na droga. Sempre que converso com um deles, nota-se o desespero já na fala e pelo que contam. Todos tem completa noção de que não estão bem, que precisam de tratamento e querem de qualquer forma sair desta vida.
Mas também posso pegar fatos recentes, como o usuário que subiu em uma antena, no Rio Grande do Sul, para implorar que não o deixassem sair da internação pois ele sabia que se voltasse para as ruas, voltaria a consumir a droga.
Em caso mais recente, "Jovem pede para ser acorrentado para evitar consumo de crack", conforme notícia publicada pelo portal Terra AQUI.

Até a campanha da RBS TV ir ao ar, apenas dois grupos se preocupam com os usuários de crack.
1. Os grupos de rap que em suas letras, alertam sobre os perigos do crack, já que muitos viram seus amigos se perderem nessa.
2. As igrejas que mantém casas de recuperação para tratar, normalmente com bons resultados, dos que conseguem este tipo de tratamento.

Já a campanha da RBS TV ao meu ver está totalmente deslocada da realidade.
Dificilmente um usuário de crack consegue chegar a fazer um curso pré-vestibular. Poucos sequer terminam o 1º grau. Ou o crack já está atingindo a classe média e a RBS só se preocupa com este público, ou ela não compreende o mundo que essas pessoas vivem.

De qualquer forma, o fato é que os viciados no crack estão desesperados para sair deste abismo e as mãos para ajudar a puxá-los de lá ainda são insuficientes. E o desespero não para de aumentar.

Há duas coisas a serem feitas:

1. Tratar os dependentes: Há que se ter uma outra visão, pois a própria polícia sabe da ineficácia de prender usuários de crack. É uma questão de saúde pública.
Na semana que se passou, fiz uma confraternização com amigos que estudaram comigo no 2° grau e tivemos a visita de um rapaz que frequenta(va) os eventos de rap na cidade e me reconheceu, onde comeu uns pedaços de pizza e tomou meio refrigerante (a outra metade ele deixou no copo e levou a lata), mas o que ele queria mesmo eram 2 reais. A primeira desculpa era para comprar cachorro quente (mesmo após ter comido pizza), onde conseguiu, sumiu e voltou depois de uma hora com a desculpa para conseguir mais 2 reais: "não consigo dormir sem um baseadinho". Como não conseguiu os 2 reais, saiu do local. Quando nós saímos, um tempo depois, ele estava em um ponto de ônibus (1:30 da madrugada) fumando na lata. Ele não estava só, tinha cerca de 5 pessoas próximas a ele, e mais de 10 nas redondezas, todas usuários de crack. Muitos, assim como ele, provavelmente moram na rua e suas vidas estão reduzidas ao vício. Prender, bater, não vai adiantar, eles já estão acostumados a isso, já perderam a noção da realidade, do certo e errado, do que é verdade e do que é mentira. Precisam de um tratamento na certa.


2. Evitar novos usuários: Aqui está a maior oportunidade para reduzir esse grave problema social que afeta todos os centros urbanos no Brasil (no exterior o problema maior é a heroína). Para entender como evitar novos usuários, é preciso entender como os usuários chegam até a droga.
O primeiro passo que um usuário dá, é tirar a barreira de que a droga é ruim. Esse passo é principalmente dado quando experimenta a maconha. De fato a maconha não é uma droga tão ruim como é apresentada, onde o vício é possível ser controlado, seu custo não é alto, e as doses duram aproximadamente 2 horas. Tirando os preconceitos tradicionais, a maconha atinge principalmente a memória de curta duração e não leva os usuários a corridas pela droga durante toda a noite. Quando um usuário, que tinha a impressão de que drogas matam, etc etc e ao provar
a maconha, toda a mística começa a cair por terra. O usuário não fica violento, normalmente nao precisa roubar e tem seu prazer encontrado.
Mas, a maconha não é algo tão lucrativo quanto aparenta. Apesar de ter um grande número de adeptos, o uso não é tão intenso visto que seus efeitos duram por mais tempo, o que faz os traficantes buscarem outros produtos para "diversificar" seu mercado. É onde entra a cocaína e principalmente o crack. (Não vou comentar sobre a cocaína, mas a escolha nas periferias pelo crack é pelo seu preço por dose e efeito muito alto e rápido). Nas entre safras e nas apreensões policias, normalmente falta maconha nos traficantes. As vezes também o traficante diz não ter para vender os outros produtos e conseguir novos "clientes". (gosto de usar os termos capitalistas pois a droga segue as leis de mercado e do capitalismo muito mais visíveis que outros produtos, já que não pagam impostos). É nesse momento que surge a oportunidade aos traficantes de oferecer um produto mais lucrativo para eles, não importando o prejuízo social causado, assim como acontece em muitos produtos capitalistas. Aliás, o crack é uma invenção dos EUA, que é retratada no filme "Get Rich or die trying" (Fique rico ou morra tentando) onde o próprio nome já sugere muita coisa.

Em resumo: Manter a maconha proibida e tratá-la como droga como se fosse uma droga química, ao invés de tratá-la como o alcool, quebra a desconfiança sobre todas as drogas, tira a credibilidade das campanhas anti-drogas e deixa os usuários livres e abertos para o marketing dos traficantes a criação de novos viciados em crack e cocaína.

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