
Passado algum tempo dos acontecimentos no Rio de Janeiro, vale a pena fazermos uma análise mais profunda sobre suas causas e consequências do evento.
Mas o que me chamou a atenção no filme, com semelhanças para este acontecimento no Rio de Janeiro, foi quando supostos "traficantes" atacam uma delegacia para roubo de armas. Apesar da notícia correr dessa forma na mídia, a realidade (no filme) é que o ataque foi efetuado e programado pelas milícias, pois após o ataque um morro foi acusado, o BOPE faz a invasão e logo em seguida a milícia toma conta do morro. O Matias acaba morto pelos próprios policiais por não colaborar na hora de forjar o encontro das armas roubadas.
2. Não fazendo sentido então a versão amplamente divulgada pela mídia, que tinha seguidos orgasmos ao ver pobres sendo atacados por armas, onde a única representação do Estado presente nas favelas parece ser a força policial, já que as outras forças não parecem tão importantes para a classe dominante, o que sobre de motivação para uma invasão na favela desse porte, são os dois próximos eventos marcados para o Brasil, e que vão beneficiar diretamente o Rio de Janeiro: Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016.
O que está realmente em jogo neste acontecimento é a estrutura para receber turistas nestes dois eventos, a exemplo do que se fez na África do Sul nesta copa de 2010. As obras levam tempo e o trabalho sujo começou logo após as eleições, onde os políticos já trabalham com seus cargos garantidos
Consequências:
Após perda de domínio de algumas favelas do tráfico para o Comando Vermelho, teremos algumas possíveis consequências.
1. Domínio do morro por parte de mílicias, que normalmente prefere trabalhar no estilo "máfia" cobrando taxas dos empreendedores locais ou a inserção real das UPPs.
Seguindo essa lógica, o mercado comprador daquela região automaticamente se muda para outras regiões, tendo novas buscas e crescimentos de outros grupos que dominam outros morros, principalmente os mais longe do percurso dos eventos 2014 e 2016.
2. Uma outra consequência bem comum, é alterar a forma de comercialização da droga. Ao invés do tradicional domínio de território para venda de droga no local, começam a usar a tele-entegra (delivery) onde não é necessário controle territorial, sendo desnecessário investimento em armas e estrutura social.
3. Também sobraram muitas armas nas mãos de bandidos, e os que não conseguirem se juntar a organizações em outras favelas, certamente voltarão aos crimes praticados antes da facilidade com o tráfico, que são assaltos a bancos, sequestros, roubos.
Ou seja, apesar da impressão de "problemas resolvidos", os únicos problemas que estão sendo tratados, são os de acesso para os turistas curtirem os eventos esportivos de 2014 e 2016. Não há um "fim do tráfico" ou fim do problema de moradia precária, ou fim da insegurança e da violência. O crime mudará de lugar e talves de atividades, mas não deixará de existir apenas por invasão de bairros pobres.
Por isso estaremos de olho no que acontece no Rio de Janeiro. Pobresa não se combate com polícia, mas com educação, cultura e habitação.