1 de janeiro de 2010

Nova Safra do Rap pós-moderno


Agora no final de dezembro chegou para venda o tão esperado CD do V.O (Versão Original), grupo de Rap de Joinville, que junto com outros grupos da cidade não desistem de lutar para manter o movimento em movimento.

Eu estava com muita expectativa e apreensão para ouvir esse CD, e vou explicar o porquê.

Conheço o Lucas, um dos integrantes do grupo, desde os tempos que frequentávamos uma igreja evangélica, passando pelos diversos eventos de hip-hop realizados na cidade e até nas manifestações contra o aumento da tarifa do transporte público.

É um grande rimador, que se dedica ao que faz e principalmente ACREDITA em si. E isso certamente faz a diferença. Pensando no futuro promissor que tem, ele decidiu fazer faculdade de Publicidade, matéria que eu como auto-didata sempre estudei. Sei que alguns no rap podem até criticar, mas como diz GOG "O estudo é um escudo" que tem no CD citado. Ele, como eu e muitos brasileiros, somos filhos de torneiro-mecanico, como o Lula, presidente do Brasil. Ou seja, somos (me refiro a toda geração da década de 80) os herdeiros das lutas de vários brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e será essa geração que daqui alguns anos ditará o destino do Brasil, começando hoje.

Apesar de toda essa história, sabemos que o hip-hop vive um dilema. Como se sustentar num mundo cada vez mais insustentável? Muitos grupos têm procurado "atalhos", produzindo cds totalmente dedicados a pista, com letras fúteis e ritmos mais puxados para o pop, buscando o mercado aberto pelo rap estadunidense, como o grupo ligado ao Cabal e o tal Hip Hop Pro. Eu particularmente acho este caminho bem perigoso, pois o público deste tipo de música não reconhece os talentos mas sim ouve apenas como música ambiente e que de tempos em tempos muda o ritmo, passando por sertanejo universitário, funk, ou qualquer outra moda da hora.

Já o publico tradicional do hip-hop, da qual faço parte, gosta de boas letras e boas levadas. Conhece os problemas sociais do país e luta por eles, enfim é um público fiel e que dá valor ao talento verdadeiros.

A idéia de evolução do Hip-Hop vem do seguinte: fazer música que não fuja dos ideais do movimento, mantendo o público fiel e ao mesmo tempo abranger a classe média que tem dinheiro pra consumir, trazendo receita e tornando o movimento cada vez mais sustentável.

Qualquer passo dado muito para um dos lados pode acabar com todo um projeto. Então era essa minha apreensão antes de ouvir o CD.

Mas agora que o CD (em meio a 6 bilhões) está em mãos tudo está bem. Um trabalho que realmente me surpreendeu e vários amigos que são do movimento e não cansam de elogiar.

Costumo dizer que um CD de rap é como um livro, que passa um conjunto de idéias de um momento da história, sendo reforçado a cada vez que é tocado e decorado pelos ouvintes. E este "livro" é completo em todos os sentidos que foram citados acima.

Realiza os mais conservadores do movimento, com letras sutis mas bem politizadas, como as músicas "Conectai", "Pacifista", "Ta tudo errado" e "El Hajj Malik El Shabaz", com críticas as futilidades das mulheres que levam muitos homens a seguirem caminhos errados em "Interesse" com participação especial do Marcão do grupo DMN.
Também traz outra grande participação da cidade com Karina K, que com sua grande voz inicia o CD com músicas que misturam a cultura nacional digno de comparação com Marcelo D2 em o seu hip-hop com samba. No mesmo estilo ainda tem um grande rap com participação do coral infantil da Escola Elias Moreira.
Ainda traz hits de verão como "O O O", numa criatividade que me deixou boquiaberto e "De role" que representa o rolê de várias tribos de Santa Catarina, exaltando a natureza e as praias locais.
A música "Absorvendo idéias" também reflete o momento histórico da qual fazermos parte, que é a Era da Informação. Sem deixar de lado músicas de pista como "Só tenho agradecer" e "Clima na festa".

Certamente há muito que se falar sobre cada música, com letras muito bem feitas e produções que realmente provam que o Hip Hop Brasileiro está sim evoluindo e este é só o começo. Aliás, não posso deixar citar a grande ajuda do Abel Xicano, grande músico local que produziu algumas bases e esteve envolvido em todo o projeto, formado em Marketing. Em post mais adiante estarei comentando faixa a faixa o CD

Indico a todos comprar. Em Joinville está a venda na VISCOM, nova loja de Rap da cidade, por apenas R$ 10,00. Quem tiver interesse e for de outra cidade é só me falar que posso fazer o envio, o preço de envio pelo correio como encomenda normal é de aproximadamente R$ 2 reais.

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